Zé não sabe o que é.

Não sabe a grandeza do próprio coração que,

de tão grande e terno,

tem limites imperceptíveis até mesmo aos íntimos.

Não sabe também que seu nome é assim pequeno

para que contenha a simplicidade toda que ele é;

nem seus olhos parecem saber,

por trás da cor de mel de que se vestiram,

das luzes de amizade com que iluminam

a vida daqueles que ele ama!

 

Zé não sabe o que é.

É único, como todos são, mas como sabe ser único!

Às vezes penso que os anjos sentem uma terrível inveja

da bondade que mora nele.

Coube-me a sorte de tê-lo como irmão e companheiro;

ao mundo, de abrigar alguém que é,

ainda que não saiba que, se todos fossem como ele,

a vida seria a grande festa de ser!

 

(Dacca, Bangladesh, 5.5.1977)

 

BEM-VINDA!  

É a Morte que chega, que ronda, que sonda...

Esconda-se!

 

Pouco adianta. Adiante, ela o encontra...

Seja contra!

 

Inútil. Ela volta, insiste e,

 em riste, o golpeia, cumpre seu dever sinistro,

e mata e leva e esconde...

 

Para vingar-se da tirana, só há um caminho:

nada a irrita tanto, nem a faz sentir-se tão tola,

quanto um sorriso zombeteiro e a palavra:

bem-vinda!

 

(Dacca, Bangladesh, 27.5.1977)